Anitta leva surdos a Bloco das Poderosas em ação de inclusão no Carnaval

Anitta é um dos nomes mais comentados neste período de folia. E, para fechar a semana de festa, a cantora comandou neste fim de semana pós-Carnaval o Bloco das Poderosas, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Para as duas apresentações foi preparada uma ação de inclusão. A cantora reuniu deficientes auditivos para curtirem a festa com ela. Na capital fluminense, foram 20 foliões no sábado (9) e, em São Paulo, 20 pessoas foram ao Espaço das Américas neste domingo (10), segundo a Skol, que criou e apoiou a ação.

Sem poder escutar, esses convidados contaram com uma mochila especial que vibra de acordo com as batidas das músicas e a ajuda de intérpretes para as letras.

Leonardo Castilho, 31, foi aos dois shows. O educador paulistano ficou surdo aos oito meses de idade, mas não sabe a razão. No Rio, ele chegou a dar um selinho na Anitta em cima do trio. “Quando eu conseguiria beijar uma mulher poderosa dessas? Eu consegui entrar no mundo da música”, diz sobre a experiência.

Ele conta que ama Carnaval e que costuma ir a shows com frequência e curte a apresentação por meio das vibrações —quanto mais grave o som, mais intenso o estímulo, diz. Na lista, Leonardo conta com Lady Gaga, Madonna, Beyoncé e Rolling Stones.

Bruno Baptista recebeu a informação do Bloco das Poderosas por meio de um grupo de surdos e decidiu ir ao evento no Rio. Fã de Carnaval, o jovem de 27 anos conta que perdeu a audição aos 11 anos por um problema genético.

Para Bruno, a campanha é muito importante por questões de representatividade.

“Muitos surdos não saem de casa quando há festas com música, é importante mostrar que é possível”, conta o educador de 27 anos por meio de um intérprete de Libras.

“Para mim, a experiência foi divertida. Em shows já tive experiências com intérpretes de Libras. Mas hoje posso sentir a vibração com a mochila de uma forma diferente, muito melhor”, relata ele, que foi ao evento acompanhado por sua mulher Rafaela —também surda.

“Tem sido comum falar sobre diversidade no Carnaval, mas muitos se esquecem das pessoas com deficiência. Queremos, sim, uma festa da diversidade, mas também com muita inclusão. A folia precisa ser para todos”, afirma Maria Fernanda Albuquerque, diretora de marketing de Skol.

As mochilas, segundo Anitta, podem seguir em mais shows da turnê para possibilitar a experiência para outros deficientes auditivos.

“É uma ideia que particularmente eu amei. Estamos estudando com a Skol a continuidade e viabilizar para o maior número de pessoas”, diz a funkeira em entrevista à Folha, com reflexos da maratona de folia e uma leve tosse.

“Cada batida vibra de uma maneira… O violão, a voz. É realmente como se sentisse a música tocar. Ela traz todas as sensações da música”, relata a cantora, que testou o equipamento.

De acordo com o censo de 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), há 9,7 milhões de deficientes auditivos no Brasil.

Cantora Anitta reuniu surdos para curtirem o Carnaval no Bloco das Poderosas em 9 de março, no Rio (Divulgação)
Cantora Anitta reuniu surdos para curtirem o Carnaval no Bloco das Poderosas em 9 de março, no Rio (Divulgação)

Além da ação na festa com Anitta, a Skol também apoiou o bloco Quando Come Se Lambuza, em Belo Horizonte. Em Minas, um grupo de 14 cadeirantes participou da bateria durante este Carnaval.

“Em 2019 entendemos que esse nicho da sociedade sempre foi muito marginalizada, principalmente nesta época do ano, pois não conseguia ir aos desfiles e muito menos ter a experiência de tocar na bateria de um bloco de Carnaval muitas vezes por falta de segurança, estrutura e até mesmo por falta de convite”, afirma Christiano Ottoni, responsável pelo marketing do bloco.

Para que os participantes se sentissem mais confortáveis, foi criada uma plataforma que levava quem não desejava ir no chão com o restante da bateria. Além disso, conta, foi solicitado ao poder público banheiros especiais ao longo do trajeto.

Integrantes da bateria do bloco Quando Come se Lambuza, em BH (Divulgação)
Integrantes da bateria do bloco Quando Come se Lambuza, em BH (Divulgação)

Vivian Schreiber, 36, foi uma das participantes. Ela passou a usar a cadeira de rodas há cinco anos, após uma distrofia muscular que a enfraqueceu. “A experiência foi maravilhosa. Senti de perto o que é tocar para uma multidão, o embalo da música, a alegria do pessoal”, afirma ela, que tocou agogô durante a festa.

A mineira diz que uma das dificuldades é acompanhar o bloco e tocar ao mesmo tempo. “Tem que ir um sempre empurrando. Aí que vai um desafio, contar com a boa vontade do pessoal.”

Para ela, um dos pontos críticos foram banheiros químicos. “Quando tinha já tinha sido usado e já estava todo sujo”. Além disso, ela relata que se parasse nas vagas de estacionamento para cadeirantes seu carro poderia ser rebocado.



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