Denilson e Marcos divulgam torcedor virtual para refletir sobre violência no futebol

“Se eu tivesse na ativa, não teria rede social”, diz o ex-goleiro Marcos. O receio do palmeirense e campeão do mundo pela seleção brasileira em 2002 se dá pela pressão e violência no futebol. A cobrança, segundo ele, é muito pesada.

“Abala, sou um ser humano. Por mais que seja profissional, ficar ouvindo xingamento, ofensas contra a família não é legal para um cara que tem que entrar em campo com a cabeça tranquila e tem a responsabilidade de representar uma torcida inteira”, afirma ele, que envergou a camisa 12 do Palmeiras de 1992 até o fim de 2011 e anunciou a aposentadoria no início da temporada 2012.

Marcos relembra a violência física a que eram submetidos. “Um time ser desclassificado e a torcida esperar no estádio, no aeroporto para agredir era normal. Agora estamos policiando, continua acontecendo, mas já se percebe que é algo feio a se fazer.”

Com o olhar  sobre a violência, a Amstel, marca holandesa de cerveja que patrocina a Libertadores desde 2017, lançou uma plataforma chamada de Torcedor Artificial no fim de agosto e contou na divulgação com, além de Marcos, outro pentacampeão, o atual comentarista Denilson.

Por meio de inteligência artificial e estudos em parceria com o Google, a marca mapeou a reação de torcedores na internet, principalmente nas redes sociais. Esse torcedor virtual ficou exposto a esses comentários e aprendeu com eles: tornou-se, logo, agressivo e intolerante. Agora, a ideia é que ele interaja com os fãs de futebol e aprenda a se comportar, ser mais amigável e com espírito esportivo.

“A Amstel acredita que a Libertadores não é sobre ódio. É sobre paixão”, diz a mensagem inicial da plataforma que quer gerar a reflexão. “Genuinamente a intenção é trazer a consciência. Deixar um legado”, afirma Eduardo Picarelli, diretor de brand experience do grupo Heineken, dono da Amstel.

Casos de racismo, homofobia, machismo e brigas no estádio são os principais alvos. Na última edição da Libertadores, por exemplo, a final foi levada a Madri após confronto e agressões entre torcedores dos times argentinos Boca Juniors e River Plate. “A casualidade da final entre River e Boca veio para ver que a gente estava no caminho certo”, diz Picarelli.

Recentemente gritos homofóbicos fizeram com que o árbitro paralisasse a partida entre Vasco e São Paulo pelo Campeonato Brasileiro. A torcida carioca entoava em coro “time de veado” contra a equipe paulistana em um jogo disputado em 25 de agosto.

O ato foi relatado na súmula pelo juiz. O STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) afirma que manifestações homofóbicas podem ser enquadradas no artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva: “Praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência”. Entre as punições previstas está a perda de três pontos.

Denilson é a favor: “A gente vive um divisor de água nesta questão de homofobia. A punição tem que existir, sentir no bolso, neste caso na classificação. O torcedor vai sentir e vai falar ‘Caramba, a culpa foi minha'”, diz o ex-atacante. Ele vê uma melhora nesta questão na sociedade como um todo, mas não no meio do futebol. T”em melhorado porque as pessoas têm saído na rua. Mas no futebol não evoluiu.”

Já Marcos é a favor de uma pena mais amena: “Eu defendo a informação antes da punição. A gente vive em um país que cabe muita educação ainda para um monte de gente, independentemente da classe social.”

 

 



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