Marcas treinam refugiados, negros e público LGBT em programas de capacitação
Yaman Saad, 35, é uma arqueóloga síria. Até 2016, ela trabalhava no Museu Nacional de Damasco, quando decidiu vir ao Brasil fugindo dos conflitos na região. Por ora, conta, não está fácil voltar à sua área de atuação e se dedica a dar aulas de árabe em uma escola no centro de São Paulo. “Eu não conheci ninguém que trabalha na minha área. Mas, se tiver a oportunidade, gostaria de atuar”, afirma a refugiada em bom português.
Enquanto isso, Yaman resolveu oferecer também experiências de sua cultura no Airbnb. “Minha experiência se chama Viagem a Damasco”, conta. “Consiste em guiar meus hóspedes pelas ruas da parte antiga e histórica de Damasco. Por meio de um vídeo especialmente produzido fazemos uma visita virtual pelos lugares mais importantes e interessantes desta cidade.”
A visita virtual ainda segue por restaurantes, momento em que os clientes saboreiam algumas receitas árabes preparadas por ela aqui no Brasil. “No final desta viagem mostro no vídeo como a guerra afetou meu país e minha cidade com imagens de antes e depois da guerra”, completa.
Yaman está em um grupo de 20 refugiados que oferecem esse tipo de serviço em São Paulo no site. São pessoas vindas de nove países: África do Sul, Bolívia, Colômbia, Guiana, Haiti, México, República Democrática do Congo, Síria e Venezuela.
A plataforma de hospedagem promove a ação após um programa de capacitação para essas pessoas, como parte do projeto Raízes na Cidade, em parceria com a ONG Migraflix. O objetivo, segundo a empresa, é conectar essas pessoas à sociedade brasileira por meio do empreendedorismo.
Entre as atividades culturais espalhadas por diferentes regiões de São Paulo estão jantares sírios na casa de uma refugiada, apresentação de músicas de venezuelanos e aulas de dança e turbantes africanos ministradas por uma ex-miss do Congo. Os preços para o público variam de R$ 40 a R$ 130 por experiência e, de acordo o Airbnb, a companhia não fica com os costumeiros 20% de comissão, revertendo toda a renda à ONG e ao responsável pela experiência.
“Esta parceria com a Migraflix está alinhada com os valores de diversidade e inclusão do Airbnb. Acreditamos que todos podem pertencer a qualquer lugar e isso inclui experimentar diversas culturas do mundo”, afirma Leo Tristão, diretor-geral do Airbnb no Brasil. “Nossa comunidade de anfitriões abre diariamente as portas de suas casas e de seu conhecimento para o outro”, completa.
Já a dificuldade e o preconceito pelos quais passa o público LGBT foi o mote para o Projeto AB, uma parceria entre a marca de vodca Absolut e o Batekoo, coletivo LGBT de representação negra e periférica que promove festas.
Por meio de oficinas e workshops, o propósito é aumentar a empregabilidade deste público e fomentar o empreendedorismo. Para isso, alugaram uma casa no centro de São Paulo são realizadas desde junho algumas festas e aulas para capacitar bartenders, fotógrafos, videomakers, hostess, seguranças e outras ocupações do mundo da produção cultural.
Na grade do mês de agosto, por exemplo, houve cursos de finanças pessoais, nutrição e design. As inscrições podem ser feitas pelo site oficial.
Monique Lemos, responsável pelas parcerias entre marcas e Batekoo, diz que com o crescimento das festas a demanda por determinados profissionais também vem crescendo. “Escolhemos essas profissões para os treinamentos porque somos uma empresa que está crescendo rápido e estamos envolvidos em diversas frentes de produção cultural”, diz.
“A ideia é promover mais do que uma campanha de celebração e, sim, um primeiro passo para estabelecer uma política perene de ações afirmativas da marca para a comunidade LGBT+ no Brasil”, afirma Renata Valente, gerente de marca da Absolut Brasil.
Segundo a empresa, a meta é que, de junho a dezembro de 2019, o projeto conecte os participantes a aproximadamente 800 oportunidades de trabalho.
+ Mais Inteligência de Mercado
Sugestões, críticas ou dúvidas? Envie para
folha.inteligenciademercado@gmail.com