Por medalhas e dados, Ajinomoto investe em esportes olímpicos menos populares
Daniel E. de Castro
Nem futebol, nem beisebol. Tanto no Brasil quanto no Japão, os investimentos da Ajinomoto no esporte passam longe das modalidades mais populares desses países.
A estratégia esportiva da empresa multinacional japonesa, que atua nas áreas de alimentação, nutrição, farmacêutica, cosmética, entre outras, data do início do século, quando a companhia iniciou sua parceria com o Comitê Olímpico Japonês (JOC).
Em 2009, adquiriu os “naming rights” do centro de treinamento da entidade, localizado em Tóquio com instalações para a prática de mais de dez modalidades.
O investimento em esporte começou a ser replicado neste ano no Brasil, quarto maior mercado da Ajinomoto, por meio de patrocínios aos comitês olímpico (COB) e paraolímpico (CPB) do país.
Recentemente, foi importado da matriz o Projeto Vitória, que busca melhorar a performance de atletas olímpicos e paraolímpicos por meio de consultoria de nutrição e uso de aminoácidos para suplementação alimentar.
A empresa formou um time para os Jogos de Tóquio-2020 com 20 esportistas brasileiros patrocinados, entre eles Arthur Nory (ginástica artística), Ana Marcela Cunha (maratona aquática) e Rafael Silva (judô).
“Oficialmente, a parceria com o JOC e o Projeto Vitória tiveram início em 2003, mas tudo começou na década de 1990, quando tivemos contato com alguns atletas, fornecemos aminoácidos para eles e começamos a ver resultados positivos”, afirma Takaaki Nishii, presidente global da Ajinomoto.
O executivo, que comandou a operação brasileira da empresa de 2013 a 2015, diz que a aproximação com as modalidades olímpicas permite a exploração de um terreno menos concorrido na área do marketing esportivo.
“Existem aqueles ramos do esporte que já se tornaram um grande negócio, e outros que são muito menos conhecidos. Por exemplo, no Japão investir no beisebol seria uma barreira muito grande para a Ajinomoto, assim como investir no futebol no Brasil”, explica Nishii.
Entre as primeiras modalidades apoiadas no Japão estavam nado artístico, tênis de mesa e badminton, que são populares na Ásia, mas não contam com grande apelo na mídia internacional.
Também faz parte da estratégia associar a companhia ao aumento da conquista de medalhas nos Jogos Olímpicos, algo que já vem acontecendo com os japoneses nas últimas edições e deverá se repetir dentro de casa no ano que vem.
“Quando vemos uma categoria esportiva que ainda não é considerada comercial, mas em que identificamos um número elevado de jovens com potencial, damos oportunidades para que eles se tornem atletas de elite”, afirma Nishii, praticante de golfe e entusiasta dos esportes de inverno.
Outro pilar importante para a empresa é a coleta de informações nas áreas em que atua. Nas instalações do Training Center, onde oferece alimentação aos esportistas, a Ajinomoto recolhe dados a respeito das refeições feitas por eles e conduz análises para aprimorar conhecimentos sobre suplementação alimentar.
A rotina dos atletas segue o programa Kachimeshi (que significa nutrição para vencer), baseado na ideia de que o equilíbrio entre alimentação adequada, treino e descanso os conduzirá aos objetivos traçados.
Como os atletas olímpicos têm uma série de restrições sobre as substâncias que podem ingerir sem violar o código mundial antidoping, alcançar esse balanço pelas vias “limpas” é tema de muita pesquisa e interesse mundial.
Recentemente, vários atletas flagrados no doping atribuíram o resultado positivo dos exames a uma suposta contaminação de seus suplementos.
Em meio a esse cenário, o médico Christian Trajano, gerente de educação e prevenção ao doping do COB, foi até o Japão conhecer as diretrizes dos projetos da Ajinomoto e da fabricação de seus produtos voltados à melhora de performance esportiva.
“Dentro do comitê, algumas pessoas têm como postura pessoal ser totalmente contra o uso de suplementos, para minimizar os riscos, mas a gente sabe que muitos atletas terão indicação médica para usá-los, então a nossa posição é de entender esses processos e informar”, afirma Trajano.
Para ele, o nível de pesquisa que a empresa desenvolve sobre aminoácidos pode representar um trunfo científico na parceria com o comitê. “O ponto alto foi conhecer a capacidade científica que a gente pode desenvolver para os nossos atletas, um ganho que pode ser até maior até do que o valor financeiro do patrocínio”, diz.
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