Taís Araújo é dirigida por Lázaro Ramos em comercial gravado em casa na quarentena
Taís Araújo e Lázaro Ramos têm cumprido com atenção as recomendações das autoridades e especialistas para o distanciamento social, na luta contra o novo coronavírus. O casal conta que está há cerca de 50 dias em quarentena na casa no Rio de Janeiro, onde vivem com seus dois filhos —filhos João Vicente, 8, e Maria Antônia, 5.
“Não tem sido fácil, assim como não tem sido fácil para ninguém”, diz a atriz em conversa com o Inteligência de Mercado. Pouco antes de o Brasil começar a adotar medidas mais rígidas na pandemia, no meio de março, a atriz fechou um contrato para a campanha do tradicional remédio Doril, que apresenta nova versão.
Com a evolução no número de casos e o agravamento da Covid-19, os compromissos fora de casa não poderiam ser cumpridos. Taís teria de se deslocar até São Paulo ou receber a equipe em sua casa para as gravações —ações que iam de encontro ao que já pregavam os especialistas.
Para solucionar o impasse, a atriz conta como deu uma ideia à marca: ‘Gente, eu sou casada com um diretor. O que vocês acham de o Lázaro dirigir?’. E a sugestão foi aceita.
O ator e diretor Lázaro Ramos seria então o responsável pela gravação feita inteiramente em casa para evitar a exposição de família e de outros profissionais.
“Dirigir eu já tinha dirigido. Mas ocupar várias funções em um só trabalho não”, diz ele. “Organizar cenário, fazer a câmera, enquadrar, dirigir foi algo novo. Foi bacana poder ter a colaboração da equipe que, de maneira remota, estava sempre dialogando.”
Segundo Carla Araújo, diretora de marketing de Doril, a ideia inicial da campanha era a mesma: mostrar a rotina de Taís Araújo e tratando da dor de cabeça, que pode tirar do ar e dificultar o dia a dia.
“A grande diferença diz respeito a situação vivida por Taís. Antes considerávamos uma rotina bastante diferente da que ela está vivendo hoje, tendo que se dividir entre set de gravação, casa, projetos etc. Hoje esses multipapéis são desempenhados de forma diferente e precisamos adequar nossa linguagem a essa nova realidade”, afirma a executiva.
Mas, diante do novo cenário, a dinâmica mudou e os gatilhos que causam a dor de cabeça também. “Ouvimos de consumidores, amigos e familiares sobre essa pressão e correria dos multipapéis que estamos vivendo em casa, tendo que ser de tudo um pouco para cuidar de quem amamos e de nós mesmos”, conta a diretora de marketing. Foram necessários 15 dias para a conclusão do vídeo e a campanha deve estrear nesta quinta (7).
O projeto, segundo a marca, contaria com uma equipe que poderia envolver até uma centena de pessoas de times de agência de publicidade, marketing e produção. Neste caso, o casal teve tutela a distância da produtora Sentimental Filmes.
“Eu e o Lázaro já trabalhamos juntos muitas vezes, com mais gente envolvida. Neste desafio, éramos apenas nós dois, com muitas responsabilidades distintas, sem que tivéssemos domínio de todos os conhecimentos para contar essa história”, afirma Taís.
Lázaro ressalta a quantidade de detalhes envolvidos e improvisos que fizeram na falta de uma equipe presencial. “Foram muitas reuniões online e nos dedicamos ao máximo para aprender e completar o trabalho, utilizando basicamente um celular moderno, um tripé e iluminação”, afirma.
Abaixo, veja making of e entrevista com Taís Araújo e Lázaro Ramos:
Inteligência de Mercado – Como tem sido para vocês administrar confinados trabalhos, tarefas domésticas, cuidado com os filhos, saúde mental e outros temas ao mesmo tempo?
Taís Araújo – Não tem sido fácil, assim como não tem sido fácil para ninguém. Claro que a gente tem que levar em consideração a com a condição que a gente tem, de ter um emprego, de ter uma casa, de ter comida na mesa, o que deixa tudo imensamente mais leve apesar de toda tragédia acontecendo. A gente vai vivendo um dia após o outro mesmo. Tentamos fazer as coisas de casal juntos, coisas junto com as crianças. Tenho a sensação de que a gente está se re-conhecendo. Está sendo bem bonito.
Lázaro Ramos – É o momento de busca por compreensão, ações de solidariedade e ficar atenta para manter a saúde física mental sua e das outras pessoas.
Qual a reação de vocês quando veio a sugestão para fazerem tudo de casa?
Taís – A sugestão foi dada por mim, porque eu já tinha sido chamada pra fazer [o comercial], já tinha fechado tudo. E eles começaram: ‘E aí vamos fazer com equipe reduzida? E aí vem de carro pra São Paulo…’. Até que a gente chegou à conclusão de que não havia a possibilidade de ter deslocamento, não havia possibilidade de equipe reduzida. Então eu falei: ‘Gente, eu sou casada com um diretor. O que vocês acham de o Lázaro dirigir?’. E aí decidimos fazer dentro de casa e pensei: ‘Vamos abrir esse precedente? A gente nunca abre a nossa casa, nunca mostramos a nossa intimidade’. Mas acho que esse momento vem para repensarmos tudo também, tudo. No início, quando pensei no Lázaro antes de sugerir, eu fiquei um pouco constrangida. Porque eu falei: ‘Ai cara, eu sugeri o meu marido para dirigir’. Mas o fato de o meu marido ser Lázaro Ramos facilita muito as coisas, porque as pessoas sabem quem eu estou indicando, que é um cara competente. Foi uma vergonha que veio e passou.
Lázaro – A primeira reação foi justamente de que era alternativa mais adequada para que se realizasse com segurança o trabalho. Eu fiquei feliz também pelo convite de Taís, porque é sempre bom falar sobre isso [questão do isolamento].
Como foi o processo de gravação em casa? Já tinham feito algo parecido?
Taís – A gente tinha uma equipe trabalhando remotamente, mas eles deram muita liberdade para o Lázaro, como diretor, também de fazer outros planos. Foi tudo amarrado entre eles e nós desde a aprovação do roteiro, da sugestão. Foi tudo construído junto. […] Ficamos muito pensando na época o que é adequado para o momento, o que é importante ser dito no momento e como a gente vai comunicar isso neste momento. É muito delicado, principalmente para a publicidade. A gente tem que comunicar o que está acontecendo, como está sendo a nossa vida de fato. Essa foi uma troca muito grande entre nós e a equipe.
Lázaro – Dirigir eu já tinha dirigido. Mas ocupar várias funções em um só trabalho não. Organizar cenário, fazer a câmera, enquadrar, dirigir foi algo novo. Foi bacana poder ter a colaboração da equipe que, de maneira remota, estava sempre dialogando. Mas na hora do vamos ver mesmo era uma administração que não era simples. Administrar a nossa casa, que continuava funcionando com nossos filhos, administrar o nosso tempo para conseguir realizar de forma bacana. Mas por outro lado teve algo de prazeroso, porque exercitar o nosso trabalho para a gente que estava tanto tempo pensando em outras coisas foi bom.
Mesmo com a experiência de vocês tanto na direção quanto na atuação, quais as principais dificuldades para fazer esse projeto?
Taís – Por mais que a gente tenha muitos anos de trabalho, de profissão, são profissionais que estão ali, que sabem. Tem cenógrafo, diretor de arte, mais seus assistentes, fotógrafo, iluminador, câmera, maquiador, figurinista… O mercado da publicidade movimenta muitos profissionais. Então a dificuldade foi de fazer o que a gente não sabe fazer, porque há muitos profissionais capacitados e que não somos nós para realizar esse tipo de trabalho. A gente tem que valorizar mais ainda esses profissionais, eles são muito importantes e têm de ser valorizados.
Lázaro – A maior dificuldade foi ter que ficar atento a tudo, para não perder continuidade, para não ficar cansado, perder a espontaneidade, para encontrar o melhor enquadramento. As vezes que eu operei câmera com compromisso de ser exibido foram câmeras profissionais, não eram celular. Entender o sistema de som e ao mesmo tempo manter o material organizado para que, quando chegasse à edição, não dificultasse o trabalho do editor. Ao mesmo tempo acho que o trabalho com teatro, e vindo de teatro popular onde muitas vezes executava diversas funções, acabou sendo resgatado neste momento. E o fato de ser com Taís, que é minha esposa, minha parceira e a gente tem muita sintonia, facilitou o processo.
De quais profissionais técnicos sentiram mais falta durante a produção?
Lázaro – É difícil de falar de um só profissional, porque a execução de um trabalho audiovisual é um processo construído em equipe. O assistente direção, o cenógrafo, o iluminador, câmera, são todas peças fundamentais. Não dá para escolher uma apenas. Acho que tem uma coisa importante a se falar é que esse vídeo por ser feito falando de um processo que está acontecendo no cotidiano de Taís, dos cuidados com a casa , dos cuidados consigo mesma, é um elemento que faz com que essa produção mais caseira acabe fazendo parte da narrativa também.
Taís, você costuma dizer que gosta de uma criação conjunta com a marca, algo colaborativo. Este projeto foi um grande exemplo disso?
Taís – Nossa, isso foi total um exemplo disso. Foi construído desde o início com eles. A gente tinha uma realidade e ela mudou. “E aí como a gente vai fazer agora?“. Foi construído tudo com eles e acho isso tão mais bonito. É mais bonito para a gente que está ali anunciando, para a marca e para o consumidor final. Porque eu falo o tempo inteiro que tem de ser construído junto. O consumidor final não é bobo, ele sabe o que quer e está junto de quem ele acredita. Basicamente é isso. A ideia de construir é para ter uma relação honesta com o consumidor final, não chegar lá só no final e segurar uma caixinha. Vai muito além disso, é respeitar o consumidor final.
Vocês são dois dos principais artistas negros do país e são ativos em questões raciais. Veem evolução de inclusão na publicidade? O que acham que falta para empresas e agências avançarem no tema de representativa negra?
Taís – É isso respeitar o público consumidor, respeitar o público negro enquanto público consumidor. Porque a gente tem o poder de consumo. Falta o que eu acabei de falar, respeitar o consumidor final. E o consumidor final é todo mundo, então todo mundo tem que se sentir contemplado representado.
Lázaro – Acho que já há empresas que ficaram atentas a isso, que é um público consumidor importante e precisa ser contemplado também na suas narrativas. Acho que perde a empresa que não está atenta.