Antirracismo não pode ser só na internet, tem de ser filosofia de vida, diz Babu
Babu Santana vai fornecer espaço em suas redes sociais a pequenos empreendedores que passam dificuldades durante a pandemia. O projeto Paizão Divulga vai apresentar às terças-feiras no Instagram histórias desses negócios para tentar alavancá-los.
Para participar, é preciso contar a situação por meio de mensagens privadas na rede social —valem projetos, empresas, marcas e os próprios profissionais de qualquer região do Brasil.
O ator e cantor conta que criou o projeto como forma de devolver o que muitas pessoas o ajudaram a conquistar, principalmente após sua participação no Big Brother Brasil 20. “Essa galera de origem humilde foi o pilar da minha torcida”, afirma em entrevista por vídeo ao Inteligência de Mercado.
“É essa voz que foi me dada por essa galera que a gente está apoiando que faz eu retribuir o carinho que venho recebendo e que é bem comovente”, diz.
Babu se relembra de sua origem na favela do Vidigal, no Rio, e diz perceber a importância do marketing para a divulgação. “Sou oriundo da favela e sei que muitos negócios não vão pra frente por falta de divulgação. Vejo muitos produtos de qualidade em comunidades ficarem presos ali por isso.”
O projeto é baseado na filosofia africana Ubuntu, conta Babu, que se baseia em alianças, solidariedade e relacionamento das pessoas. “Essa filosofia tem de ser aplicada e vivenciada. A gente não pode vender o racismo como pauta de internet, a gente tem que levar como filosofia de vida, o antirracismo.”
Em sua passagem pela casa mais vigiada do Brasil, um dos temas mais debatidos foi justamente o racismo e, quando questionado se pensou nisso ao formular o projeto, ele diz: “Eu vou te responder a pergunta com uma música do Racionais. Eu não pensei, eu não mentalizei, eu sou o negro drama”, brinca, citando a canção “Negro Drama”, clássico do grupo de rap paulista.
“Isso já está embutido. Eu sou o negro drama, todo meu movimento, todo meu pensamento, toda minha vida é pautada pelo gueto, por ser preto no Brasil, por ser descendente de um grupo de pessoas que foi massacrado. Então tudo que eu vá fazer e falar vem diretamente desses lugares, desse movimento.”
Por ora, o Paizão Divulga não tem patrocínio, mas a possibilidade não é descartada. “Eu faço com todo o carinho, a equipe também e ninguém recebe a mais por isso. Com recursos a gente poderia profissionalizar isso, fazer mais.”
Babu faz sucesso com as marcas e virou garoto-propaganda de diversas empresas desde que saiu do BBB, como Americanas, Omo, PicPay, Seara. No ano passado, surfando essa onda de grande êxito, passou a movimentar seu canal do YouTube com programas que mesclam música, culinária e bate-papo.
Atualmente também com contrato com a Globo, o ator voltou às novelas e está no ar no folhetim das 19h, “Salve-se Quem Puder”.
O artista afirma ser um espectador do Big Brother e ter observado mudanças no conteúdo. “O jogo começou a ser um pouco mais do que só aquelas pessoas. Isso se deve à qualidade das pessoas que eles começaram a colocar, começaram a colocar pautas, conversas e universos interessantes.”
A edição 2021 teve um elenco com 9 negros dos 20 participantes iniciais, o maior número desde o primeiro ano de programa em 2002. “Eu achei revolucionário. Até brinquei falando que desafiava o Boninho no ano que vem a colocar 11 [na próxima edição] para ser a maioria pela primeira vez.”
Sobre a rejeição de personagens como Karol Conká, Nego Di e Projota, Babu vê um bom debate sobre erros e acertos, mas pondera sobre o peso das reações. “Estamos julgando a pessoa porque ela de fato exagerou ou porque existe aí nesse julgamento um racismo estrutural?”
Para ele, a própria Karol Conká viu que o comportamento dela não foi bacana e com o Nego Di é a mesma coisa. “Só que ele está piorando o quadro dele se debatendo. Ele não está sendo bem orientado. Precisa dizer para ele que, uma vez que você está na areia movediça, você tem que se movimentar menos possível porque se não você acaba afundando mais”, afirma o Paizão.
Babu diz não ter concordado com boa parte do comportamento dos brothers, principalmente no tratamento dado ao ex-participante Lucas, mas nota exagero nas retaliações. “Eles serão julgados como todos as outros, mas o martelo tem que ter o mesmo peso para todo mundo”. afirma. “As pessoas às vezes falam ‘Ah, tá passando o pano’. Não! Eu só não posso ignorar isso [racismo estrutural] […] Eu não preciso humilhar, machucar, perdeu contrato. Eu acho isso desnecessário. […] Eu não preciso torcer para que aconteça algo de ruim com ela.”
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