Evento musical na Espanha une Europa e América Latina para gerar negócios
Os anos de 2020 e 2021 foram marcados pela pandemia de Covid-19, que fez o mundo parar. Com o avanço da vacinação, os índices de contaminação e mortes vão esboçando níveis de arrefecimento e a retomada da vida considerada “normal” parece se aproximar —com cautela, claro.
Neste contexto, a cidade de Bilbau, no norte da Espanha, abrigou a nona edição da Bime (Bizkaia International Music Experience), de 27 a 30 de outubro. O evento no País Basco é um encontro musical entre profissionais da área que traz discussões importantes do mercado, apresenta tendências e paralelamente promove shows de bandas de diversas partes do mundo, especialmente latino-americanas, em casas da cidade.
A divisão se faz entre: Bime Pro, que concentra as palestras no Palacio Euskalduna; Bime City, que espalha artistas para se apresentar por Bilbau; e o festival Bime Live, realizado na Arena Bilbao, com atrações mais conhecidas na Espanha, como as cantoras Bad Gyal e Ana Tijoux e os rappers Trueno e Maikel Delacalle.
O congresso tem caráter global, com representantes de 45 países, contabiliza a organização. Foram cerca de 3.500 de público, presencial e online, 1.450 empresas e 105 conferências. Com o Bime City, 40 artistas se apresentaram em lugares como Antzokia, Backroom, Stage Live, Shake, Bilborock, La Ribera y Bidebarrieta.
Um dos principais temas nesta edição, claro, foi justamente a retomada pós-pandemia. O setor de shows e grandes eventos foi um dos primeiros a parar e um dos últimos retomar as atividades presenciais oficialmente, frisam profissionais da área.
Após algumas semanas da liberação de eventos em locais fechados sem grandes restrições de capacidade, embora a máscara seja ainda obrigatória, ocorreram os shows.
INTERCÂMBIO E NEGÓCIOS
Empresários, artistas, executivos de grandes companhias, donos de startups e tantos outros profissionais da área trocam experiências e firmam novos negócios em Bilbau.
Fabio Acosta, manager do J. Balvin, e Agustín Boffi, tour manager de artistas como Rosalía, Shirley Manson, vocalista do Garbage, a cantora espanhola Mala Rodríguez e os colombianos Li Saumet e Simón Mejía, do grupo Bomba Estéreo, marcaram presença nos debates.
Mala Rodríguez foi entrevistada pelo jornalista argentino Julio Leiva e feminismo foi umdos tópicos principais. “Ser profissional e ser mãe é muito difícil e todas as mulheres aqui podem me dar razão”, disse a artista. “Ser mãe é um trabalho como outro. São muitas tarefas para uma mulher.”
As conversas passam por plataformas de streaming, marketing, lives, sustentabilidade, diversidade, inclusão, venda de ingressos, novos modelos de negócios e turismo, por exemplo.
No concurso de startups, quem venceu foi a Odisei Music, com solução de instrumentos e acessórios, com destaque para um pequeno saxofone eletrônico para viagem.
BRASIL E A AMÉRICA LATINA
Outro aspecto interessante é a ponte que se deseja firmar entre a música da Europa e da América Latina —ainda que o Brasil esteja alguns passos atrás no quesito de representatividade.
Não houve shows de artistas do Brasil, mas Sebastián Piracés e Lazúli, integrantes da banda Francisco, el Hombre, participaram de um dos debates, ao lado do empresário Felipe González, da Difusa Fronteira, e de músicos do grupo de Barcelona La Pegatina.
Para Sebastián, o Brasil faz parte da América Latina, mas parece que não. Embora digam que há pouco consumo de música em espanhol no país seja por causa da língua, ele ressalta que a arte em inglês chega com força.
“Não é pela língua, mas por um processo de imperialismo norte-americano que já leva mais de meio século”, disse na última quinta (28) durante um debate sobre o processo de criação colaborativa entre artistas iberoamericanos, que reuniu também os espanhois Adrián Salas, Axel Didier, Rubén Sierra, do La Pegatina.
“A principal barreira que identifico é o estranhamento, que gera afastamento [da cultura em espanhol e em português]. As pessoas foram ensinadas a não apreciar aquilo que desconhecem. Inclusive por isso ridicularizam ou minimizam em estereótipos tão clichês”, afirma.
O diretor da Bime, Julen Martin Larrinaga, cita certa dificuldade para reunir nomes brasileiros. Por exemplo, conta, houve a tentativa de levar a cantora Anitta, mas por questões de agenda não se concretizou. Outra barreira a ser transposta ainda é a falta de incentivo do governo do Brasil e de marcas para apoiar os artistas.
BIME BOGOTÁ
No esforço de internacionalização da música, de 4 a 7 de maio de 2022, Bogotá vai receber uma edição da Bime. A capital colombiana foi escolhida por sua posição estratégica no continente —é como um ponto médio entre a América do Norte e de outros países da América do Sul.
Para lá, o aumento de representatividade dos palestrantes é um dos objetivos da organização —contar com mais brasileiros, negros, indígenas, por exemplo.
Por ora, alguns dos nomes confirmados são Ruth Daniel (CEO da In Place of War), Fer Isella (músico, pianista)e Iggor Cavalera (músico).
Os preços para o evento ainda não foram divulgados, mas há um registro disponível para pré-venda no site oficial.
*O jornalista viajou a convite da Last Tour, promotora do evento